“Deixa-me, fonte” Dizia
A flor, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Cantava, levando a flor.
“Deixa-me, deixa-me, fonte!”
Dizia a flor a chorar:
“Eu fui nascida no monte...
“não me leves para o mar.”
E a fonte rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.
“Ai, balanços do meu galho,
“balanços do berço meu;
“ai, claras gotas de orvalho
“caídas do azul do céu!...”
Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte, sonora e fria,
Rolava, levando a flor.
“Adeus, sombra das ramadas,
“cantigas do rouxinol;
“ai, festa das madrugadas,
“doçuras do pôr-do-sol;
“carícia das brisas leves
“que abrem rasgões de luar...
“fonte, fonte, não me leves,
“não me laves para o mar!...”
Vicente de Carvalho
Postado por: Samuel Nunes
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