segunda-feira, 31 de maio de 2010

Vida e Obras de LYGIA BOJUNGA

 

Escritora brasileira, escreveu inicialmente os seus livros sob o nome Lygia Bojunga Nunes. Nasceu em Pelotas no dia 26 de agosto de 1932 e cresceu numa fazenda.  Aos oito anos de idade foi para o Rio de Janeiro onde em 1951 se tornou atriz numa  companhia de teatro que viajava pelo interior do Brasil.  A predominância do analfabetismo que presenciou nessas viagens levou-a a fundar uma escola para crianças pobres do interior, que dirigiu durante cinco anos.  Trabalhou durante muito tempo para o rádio e a televisão,  antes de debutar como escritora de livros infantis em 1972. Num continente que se tornou conhecido por seu realismo mágico e contos fantásticos,  a literatura infantil brasileira caracteriza-se por uma acentuada transgressão dos limites  entre a fantasia e a realidade Lygia Bojunga é uma escritora que perpetuou esta tradição e a tornou perfeita.  Para ela, o quotidiano está repleto de magia: onde brotam os desejos tão pesados que literalmente não é possível erguê-los, onde alfinetes e guarda-chuvas conversam tão obviamente como os peões e as bolas, onde animais vivem vidas tão variadas e vulneráveiscomo as pessoas. Imperceptivelmente, o concreto da realidade transforma-se noutra coisa,  não num outro mundo, mas num mundo dentro do mundo dos sentidos, onde a linha entre o possível é tão difusa como fácil de ultrapassar. A tristeza vive com Bojunga juntamente com o conforto, a calma alegria com a estonteante aventura e no centro da fantasia da escrita está a criança, muitas vezes sozinha e abandonada, sempre sensível, sempre cheia de fantasias.   A morte não é tabu, a desilusão também não, mas além da próxima esquina, espera a cura. Numa prosa lírica e marcante, pinta as suas imagens e não importa se a solidão é muito amarga, há sempre um sorriso que expressa uma compaixão com os mais pequenos,   que nunca se torna sentimental. Os textos de Bojunga baseiam-se fortemente na perspectiva da criança Ela observa o mundo através dos olhos brincalhões da criança.  Aqui é tudo possível: os seus personagens podem fantasiar um cavalo no qual cavalgam a  galope ou desenhar uma porta numa parede, que atravessam no momento seguinte.  As fantasias servem geralmente para ultrapassar experiências pessoais difíceis quando a personagem principal em Corda Bamba, 1979 usa uma corda para entrar   uma casa estranha com muitas portas fechadas, do outro lado da rua, é na prática uma  forma de curar a tristeza depois de ter perdido os seus pais numa morte inesperada.  Em A Casa da Madrinha, 1987 percebemos depressa que as experiências fantásticas  de Alexandre durante a sua busca pela casa longínqua de sua madrinha são na realidade   concretização das fantasias de felicidade e amparo de um menino da rua abandonado.  É uma história que se aproxima do conto de Astrid Lindgren Sunnanäng.  A fantasia psicológica de Bojunga emerge novamente nos contos com animais:  quando o tatuzinho Vítor em O Sofá Estampado, 1980 se sente nervoso, começa a tossir e  arranhar o sofá – até entrar um momento mais tarde nos seus tempos de infância. O realismo mágico e perspicácia psicológica reúnem-se a uma paixão pelo social e pela democracia. Bojunga, que começou a escrever quando ainda dominava a ditadura no Brasil, dirigia atividades subversivas. Isto torna-se mais fácil em literatura infantil porque – nas palavras de Bojunga – os generais não lêem livros destinados às crianças.  Nestes livros, encontram-se galos de briga com o cérebro costurado com arame e pavões com filtros de pensamento que se removem com um saca-rolhas.  Os ventos da liberdade são fortes nos livros de Bojunga, onde a crítica contra a falta de  igualdade entre os sexos é um tema recorrente. Mas Bojunga nunca dá sermões, o sério é sempre equilibrado pela brincadeira e o humor absurdo. Os sonhos inflados de Raquel em A Bolsa Amarela, 1976 são literalmente perfurados por um alfinete, e transformados em pipas de papel que voam  para bem distante à mercê dos ventos. Bojunga (que costuma apresentar-se em público com monólogos dramáticos)  tem o dom da narrativa oral que prende o leitor logo na primeira página.  Também escreveu peças teatrais e gosta de usar descrições cênicas.  Num dos seus livros, Angélica, 1975, incluiu uma peça de teatro completa.  Não é sempre a história em si que é o mais importante nos seus livros,  por vezes une-se um acontecimento ao outro em longas cadeias (como nas narrativas orais),  onde o personagem principal poderá por vezes desaparecer do centro de atenção.  
A tônica está na própria narrativa, com os seus tons humorísticos e poéticos,  e na sensação estranha de liberdade que brota quando tudo é possível.  A forma refinada como Bojunga deixa cores expressarem emoções contribui fortemente  para a extraordinária beleza dos seus livros.  Esta expressão é talvez mais marcante em O Meu Amigo Pintor, 1978  (também transformado em peça teatral), que descreve como um personagem, um menino,  tenta curar a sua tristeza pela morte de um pintor com a ajuda das cores.  Um relógio é amarelo ao tocar as horas, para voltar a ser branco quando pára.  Amarelo é a cor preferida de Bojunga, ligada à alegria da vida, tornou-se o tema predileto desde o seu primeiro livro Os Colegas, 1972.
Por vezes, Bojunga prefere ficar na realidade e mostrar então o seu olhar psicológico
penetrante: Seis Vezes Lucas, 1995, descreve, como na obra anterior, Tchau, 1984 a infidelidade, conflitos matrimoniais e divórcio do ponto de vista impotente  – mas esperançoso – da criança.  Bojunga entra sem medo no domínio dos adultos, na sua escolha de justificativas encostando-se com todo o direito à sua enorme capacidade de concretizar e personificar as sombras interiores em histórias fáceis de entender. Como Hans Christian Andersen, com quem se aparenta claramente, Bojunga equilibra-se  com perícia na linha entre o humor e o sério.  No seu mais recente livro, Retratos de Carolina, 2002, domina o sério.  Esta escritora fascinada pelo experimento tenta aqui novos caminhos. Em uma narrativa que se aproxima da formas do meta-romance, permite que o leitor siga o personagem principal desde a infância até à vida adulta.  Deste modo, Bojunga rompe as fronteiras da literatura infanto-juvenil e preenche assim as  ambições que enuncia no texto final e no prefácio do livro:  dar lugar a si própria e às personagens que criou dentro duma só
casa, “uma casa que eu inventei”. As obras de Bojunga estão traduzidas para várias línguas, entre as quais francês, alemão, espanhol, norueguês, sueco, hebraico, italiano, búlgaro, checo e islandês.  
Recebeu vários prêmios, entre eles, o Prêmio Jabuti (1973),  
o prestigiado Prêmio Hans Christian Andersen (1982 
e o Prêmio da Literatura Rattenfänger (1986).

Fonte:www.alma.se/upload/alma

Um comentário:

  1. Minhas riquezas, na nossa próxima reunião vamos conhecer muito mais sobre a obra de Lygia Bojunga e com certeza nos apaixonaremos ainda mais por ela. Não vejo a hora! Um forte abraço.

    Professora Lúcia

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